sábado, 23 de julho de 2011

Os Princípios do Fim

Esquece-te de mim, Amor,
das delícias que vivemos
na penumbra daquela casa,
Esquece-te.
Faz por esquecer
o momento em que chegámos,
assim como eu esqueço
que partiste,
mal chegámos,
para te esqueceres de mim,
esquecido já
de alguma vez
termos chegado.
António Mega Ferreira

DA DIFICULDADE


Não faço o que quero
faço o que posso.
E o que posso passa
pelo passo da dificuldade.
Palavras tenho poucas,
duras, despidas estacas,
complicando a minha escolha.
Ermas e perfiladas
ergo-as ao sol na vertical
e são monótonas e dão sombra.
Com elas levanto quatro nuas
paredes, um tecto em forma
de prece. Dificilmente
construo uma casa fácil
Fácil é fazer difícil,
difícil fazer o fácil.
Rui Knopfli

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Genial, digo eu...que gosto de dizer coisas

"O QUE SEMPRE SOUBE DAS MULHERES, MAS TIVE À MESMA DE PERGUNTAR

Tratam-nos mal, mas querem que as tratemos bem. Apaixonam-se por serial-killers e depois queixam-se de que nem um postalinho. Escrevem que se desunham. Fingem acreditar nas nossas mentiras desde que te tenhamos graça a pregá-las. Aceitam-nos e toleram-nos porque se acham superiores. São superiores. Não têm o gene da violência, embora seja melhor não as provocarmos. Perdoam facilmente, mas nunca esquecem. Bebem cicuta ao pequeno-almoço e destilam mel ao jantar. Têm uma capacidade de entrega que até dói. São óptimas mães até que os filhos fazem 10 anos, depois perdem o norte. Pelam-se por jogos eróticos, mas com o sexo já depende. Têm dias. Têm noites. Conseguem ser tão calculistas e maldosas como qualquer homem, só que com muito mais nível. Inventaram o telemóvel ao volante. São corajosas e quando se lhes mete uma coisa na cabeça levam tudo à frente. Fazem-se de parvas porque o seguro morreu de velho e estão muito escaldadas. Fazem-se de inocentes e (milagre!) por esse acto de bondade tornam-se mesmo inocentes. Nunca perdem a capacidade de se deslumbrarem. Riem quando estão tristes, choram quando estão felizes. Não compreendem nada. Compreendem tudo. Sabem que o corpo é passageiro. Sabem que na viagem há que tratar bem o passageiro e que o amor é um bom fio condutor. Não são de confiança, mas até a mais infiel das mulheres é mais leal que o mais fiel dos homens. São tramadas. Comem-nos as papas na cabeça, mas depois levam-nos a colher à boca. A única coisa em nós que é para elas um mistério é a jantarada de amigos - elas quando jogam é para ganhar. E é tudo. Ah, não, há ainda mais uma coisa. Acreditam no Amor com A grande mas, para nossa sorte, contentam-se com pouco."

(Crónica de Rui Zink, professor e escritor, no jornal gratuito, O Metro. Publicada a 
8/03/2010.)

sexta-feira, 15 de julho de 2011

AI QUE JÁ NÃO ME ALEMBRAVA DISTO

Sobre a amizade e os amigos muito se tem escrito, das formas mais variadas e inusitadas: textos em verso ou em prosa, pensamentos, frases soltas, citações de quem se imortalizou,  eu sei lá quantas mais maneiras...
Porém, difícil para mim, é descrever as alegrias do reencontro entre amigos de infância e de adolescência.
Por que será assim tão impossível dizer-se esses reencontros
Como descobrir as palavras certas que descrevam os momentos de ansiedade que antecedem esses reencontros, a alegria que se tem quando eles acontecem e, principalmente, como explicar o regresso ao passado que se faz - qual passageiros de uma máquina do tempo - tornando-nos outra vez aqueles meninos que ficaram lá atrás, no tempo?
Pois eu, neste passado recente, tive o privilegio, a alegria e a felicidade de passar por vários desses momentos.
 É verdade! Reencontrei amigos,  com os quais já não estava nem falava, vai para quanto? 20, 30 anos. E essa alegria e essa agitação de tornar a estar com eles, é indescritível! 
É um doce regresso ao passado, no qual a memória nos volta a trazer os sentimentos, as cores e até os cheiros, que julgávamos já perdidos para sempre. É conseguir repetir, a mesma alegria do passado, ao recordarmos os velhos lugares, as velhas aventuras, que se tornam recentes outra vez e transportar com elas a agitação, as cores e os cheiros dessa altura. 
É ser menina outra vez e sentir a mesma inocência de então. É o cada um de nós fazer, ano por ano, o resumo do que foi a nossa vida para o outro nosso amigo, e poder sentir o genuíno interesse com que ele segue o nosso relato. 
É tudo isto e muito mais para as quais palavras não sei, que persiste e que me agitam, antes e depois de cada reencontro.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

FERIAS



Estou de ferias em Lisboa.
Azar dirão uns milhares...
Sortuda dirão uns milhões...
É que Lisboa tem de facto muito encanto. Canta-se e pinta-se Lisboa... mas, ninguém fala da praia. Viver em Lisboa, é ter a praia aqui ao lado. É ir a banhos a qualquer hora. Para tal, basta apanhar o comboio, e em dez minutos, já estamos na estância balnear. 
Eu sempre fui à praia, cresci a ver o mar. 
Eu e o mar, somos namorados de longa data, desde criança que mantenho esta relação. Sazonal,  ocasional, liberal, sem ciumes, sem posses, sem cobranças. 
Somos amantes de verão. 
Quando o calor aperta, lá estamos nós... inseparáveis. E posso chegar sozinha ou acompanhada que ele recebe-me sempre de braços abertos, a qualquer hora, nem preciso de pré-avisar. Está sempre lá. Basta -me aparecer. 
Hoje, depois do genuino exagero,  estivemos juntos ao final da tarde